Se você for à Índia, verá o mantra Oṁ
por todas partes: em todas as casas e comércios, pintado nos muros e
carros, onipresente na paisagem. Hindus de todas as etnias, castas e
idades conhecem perfeitamente seu significado. Ele ecoa desde a noite
das idades em todos os templos e comunidades ao longo do subcontinente.
Oṁ é o mais importante de todos os
mantras. Diz-se que ele contém todo o conhecimento dos Vedas e se
considera o Corpo Sonoro do Ser Absoluto, Śabda Brahman. O Oṁ é o som do
Ilimitado, a semente que dá sentido a todos os demais mantras. A
Maṇḍūkya Upaniṣad começa dizendo que “o Oṁ é o mundo inteiro. O passado,
o presente, o futuro: tudo é o mantra Oṁ”.
Diz essa mesma Upaniṣad sobre ele (II:12):
Segure o arco das escrituras, coloque nele a flecha da devoção.
Tensione a corda da meditação e alcance no alvo, que é o Ser.
O mantra é o arco, o aspirante a flecha, o Ser o objetivo.
Estique agora a corda da meditação e seja uno com o objetivo.
Tensione a corda da meditação e alcance no alvo, que é o Ser.
O mantra é o arco, o aspirante a flecha, o Ser o objetivo.
Estique agora a corda da meditação e seja uno com o objetivo.
Uma das perguntas que surgem
frequentemente é se os mantras teriam efeitos calmantes. Os mantras não
são especificamente calmantes: trabalhando sobre a mente, influem
diretamente na força vital, prāṇa.
Os efeitos variam de pessoa a pessoa: para alguns podem ser estimulantes e para outros relaxantes.
Os efeitos variam de pessoa a pessoa: para alguns podem ser estimulantes e para outros relaxantes.
Por isso, e para não antecipar
resultados nem sugestionar a mente, não é bom dar receitas sobre como
agem os mantras. O que um lápis escreve, e como ele pode ser usado, vai
depender sempre da mente que o comanda.
O mantra é formado pelo ditongo das
vogais a e u, e a nasalização, representada pela letra ṁ. Por isso é
que, às vezes, aparece grafado Auṁ. Essas três letras correspondem,
segundo a Maitrī Upaniṣad (VIII), aos três estados de consciência:
vigília, sono e sonho: “este Átman é o mantra eterno Oṁ, os seus três
sons, a, u e ṁ, são os três primeiros estados de consciência, e estes
três estados são os três sons.”
De acordo com as regras do sânscrito, o
Oṁ não precisa ser nem muito curto nem muito longo. Pelo fato de ter
três letras (a+u+ṁ, como vimos na última aula), sua pronúncia não deve
se estender, nem ser mais breve, do que três mātras.
Os mātras são as unidades de tempo que
se usam para medir a pronúncia no sânscrito. Um mātra corresponde a
pouco menos de um segundo. Portanto, o Oṁ se faz em menos de três
segundos.
Porém, alguns músicos popularizaram
formas de verbalizar este mantra mais extensas. Os músicos, sabemos bem,
têm licença poética para fazer isso. Para efeitos de meditação, fazer o
mantra de acordo com as regras que expusemos acima é mais eficiente.
Não obstante, cabe lembrar que nenhuma
forma de fazer o Oṁ é errada, desde que o mantra se faça com consciência
e intenção dirigidas e conhecendo seu significado.
Como fazer a vocalização correta sem
nunca haver escutado este mantra da boca de alguém que sabe realmente
fazê-lo? O mantra se faz numa expiração breve, em ritmo regular,
inspirando pelas narinas.
A inspiração, sempre nasal, pode ser
feita depois de cada repetição ou no fim de uma série delas, dependendo
da sua capacidade pulmonar.
Começa com a boca entreaberta, mantendo a
língua colada no fundo da boca e a garganta relaxada. O som vibra na
garganta e no peito e se propaga para cima.
Quando o ar flui pelo nariz, a vibração
do som se expande para o crânio, estimulando as glândulas pineal e
hipófise, que se relacionam com os centros de força (cakras) da cabeça e
estimulam a secreção de endorfinas, as chamadas “drogas de felicidade”,
que produzem paz, alegria e bem-estar.
Aconselhamos que você treine colocando
uma mão no peito e a outra na testa para perceber como a vibração vai
subindo conforme o mantra evolui.
Ao perseverar na vocalização, você
sentirá nitidamente que a vibração se origina no centro da cabeça e vai
expandindo até abranger o tórax e o resto do corpo. Permita-se ser
respirado pelo mantra, ao invés de apenas puxar o ar. Concentre-se no
silêncio da inspiração e no fato de que o mantra continua nesse
silêncio.
O som de um mantra é muito mais que o
“eco” mental que acontece quando repetimos uma palavra um monte de
vezes. É uma ferramenta transformadora. Ao vocalizar, procure localizar o
ponto onde inicia o mantra.
Idealmente, não precisa haver tremor nem
oscilações na voz. A nota musical em que se faz o som não interessa:
serve a que resultar mais natural para você. Porém, quando praticarmos
em grupo, todos devemos buscar um som intermediário, que seja
confortável e adequado para todas as gargantas.
Esse som costuma ser a nota Do que, via
de regra, não é nem muito grave para as mulheres, nem muito aguda para
os homens. Boas práticas!
Namaste.
Por Pedro Kupfer
Publicado originalmente no Yoga.pro
Publicado originalmente no Yoga.pro
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